quarta-feira, 4 de maio de 2011

Enxertados em corno de cabra

“… enxertados em corno de cabra …”

Foi esta frase, que à uns tempos atrás me vez ficar de orelha no ar a escutar uma conversa que acontecia ao meu lado, eu sei que não é eticamente correcto ficar a ouvir conversas alheias, mas…. há sempre um mas, esta não podia passar despercebida, quanto mais não fosse, pelo entusiasmo dos intervenientes.

Voltando aos “enxertados”, a conversa decorria entre um jovem e um Sr. já com idade de avô e versava à volta da juventude que hoje temos. Nesse contexto, dizia o “Sr. avô”, que a juventude actual não se sabia comportar e não respeitava ninguém, eram uns autênticos vândalos, ao que o jovem respondia “… pois, mas se somos assim tão maus, os culpados são vocês, afinal de contas foram vocês que nos educaram e, aparentemente, falharam nessa tarefa…”. Confrontado com este argumento, o Sr. avô lá se ia desculpando com um “… pois, mas quando vocês nascem enxertados em corno de cabra, não há quem vos vergue…”

Ora, agarrando nesta deixa e apesar de perceber o comentário do Sr. avô, enquanto feito a alguns membros da juventude que nos rodeia, não posso deixar de dar razão ao forte argumento do jovem e concordar com ele. Senão vejamos, vândalos sempre existiram e de uma forma geral sempre nas camadas mais jovens das sociedades, pelo que em parte o comentário do Sr. avô seria uma cópia dos que ouvia na sua própria juventude.

A favor do jovem, abona o facto de que temos actualmente uma juventude que teve de se habituar a partilhar o tempo dos pais com rivais implacáveis: o trabalho (a maioria das vezes em simultâneo de ambos os progenitores) e a preocupação com o cumprimento das obrigações financeiras a que a maioria está atada de pés e mãos, com a estória do aparente acesso ao crédito fácil. Esta falta de tempo e a abundância de má disposição, acaba por se revelar na personalidade daqueles que educamos. Se o exemplo que damos é o de uma vida angustiada e revoltada, não podemos esperar outro sentimento nos meninos de ontem, jovens de hoje e homens de amanhã. Por outro lado, nunca foi tão difícil aos pais proporcionarem aos filhos ajuda no inicio das suas vidas, e porquê?? Simples, nunca noutras gerações, pais e filhos estiveram em simultâneo sob a mira implacável das entidades bancárias e, uma vez mais, do seu crédito fácil. Esta geração que agora nos acompanha é uma das mais inseguras das ultimas gerações, e porquê?? Simples, não somos capazes de lhes dar uma perspectiva de futuro!

Adicionalmente, tendemos a tornar as gerações de jovens que educamos cada vez mais materialistas e “interesseiras” aos substituirmos o nosso tempo, ou melhor o nosso não tempo, por bens materiais com que vamos injectando essas frágeis mentes na tentativa vã de as recompensar, como se fosse possível trocar uma hora de atenção a uma criança por um qualquer brinquedo.

Como dizia alguém, que agora não me recordo, “… educa as crianças para não teres de castigar os homens…

Fica um apelo, “percam” tempo com os jovens, acompanhem-nos em cada passo da sua aprendizagem, não se privem de lhes transmitir amor, carinho, segurança e  “Ganas de Viver”, eles merecem e se lhes dermos uma oportunidade, são pessoas fantásticas!

GdV

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